19 de dezembro de 2008

Chuva Seca



Eu tenho uma alma vestida de carvão, e há uma estampa imperceptível nela. não se trata de nenhum tipo de tendência ou coisa do gênero.
Rachaduras.
Me pergunto se Deus está furiso comigo agora. Acredite, há milhares de razões para isto.
Essa melancolia me soa tão agradável, eu poderia cheirá-la, e até poderia prová-la,minha compania infeliz. Só não garanto que posso tapeá-la quando sua compania já não for o bastante e ela se tornar enfadonha e pessimista demais pra mim, a ponto que eu queira descartar nossa amizade bem no lixo.
No lixo imundo da vida que ela oferece.
Posso imaginá-la, também.
vejo uma boneca de cera, que usa um belo vestido cor de vinho e sapatilhas de seda. É intocável, frágil. Quase distante, mas não o suficiente para não deixar se fazer sentir.
Sensitível, apenas.
Estou cada vez mais perto do abismo para tentar beijá-la.

Ela raramente traz consigo a chuva, mas, quando o faz, é tão ácida,abafada, fria e mórbida.
Eu acho que gosto disso. Desses instantes macabros idiotas de pensamento.
Observo, apenas.
A chuva.
Cada pingo que meus olhos conseguem visualizar, cada gota cor de água.
Homeopáticas e tristes. Moléculas desavisadas, que esborracham-se no vidro da janela.
Escorregam, derrotadas e encharcadas. Obedientemente silenciosas.
Mas não duram muito: logo outras caem umas sobres as outras..
Até a janela. E depois o chão cruél.
Até onde são capazes de ir.
Minha alma sorri. Sei disso porque posso sentir seu risinho abafado, como um infantil que tapa o riso com as maõs.
Ri de contentamento. Me deixa mais uma vez organizar meus pensamentos, e eles encaixam-se uns nos outros, formando um idéia verdadeira e completa.
A flâmula do desapontamento afrouxa.
E eu sinto uma paz momentânea, mas tudo é tão transitório, incapaz de durar muito mais tempo como eu gostaria.
Acredite, a melancolia é tão amigável como uma melancolia pode ser.

foto:avril lavigne

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